Não será temerário afirmar haver nascido um
“jogador de futebol” de nome José Pinto de Carvalho Santos Águas, nascido em 9
de Novembro de 1930, portanto, ainda muito novo, vai fazer agora vinte anos.
Trata-se de um elemento que o Benfica descobriu na sua recente digressão a
terras de África, agora transferido para o clube. José Águas jogava pelo Lusitano (do Lobito) mas a sua
inclinação era benfiquense.
Na estreia já o rapaz revelara qualidades,
mas agora excedeu toda a ordem de previsões, transformando-se num valor que não
pode deixar de ser examinado pela crítica.
Tinham-nos dito que Águas era um jogador de
pouca estatura e força, verificando-se na prática que tal asserção não nos
parece inteiramente exacta. Certamente, o jogador foge ao choque, mas tal
deve-se mais ao seu processo de jogo do que à míngua de recursos físicos.
Trata-se, esta é a verdade, de um elemento de grande intuição, com o condão de
transformar os lances difíceis em jogadas fáceis.
É surpreendente a sua tranquilidade em
frente das balizas, na zona onde os jogadores mais audaciosos se atrapalham,
tornando natural o aproveitamento das oportunidades que sempre surgem na
referida zona. Também o seu poder de remate, quer com qualquer dos pés quer com
a cabeça, dá à sua personalidade uma eficiência fora do vulgar. O oitavo golo
contra o Braga coroou uma exibição (marcou 4 golos) que abrirá porventura uma
carreira brilhante. Talvez haja surgido um novo “astro” no firmamento do
futebol português.
Ainda no último domingo, no Porto, o novo
centro-dianteiro do Benfica foi o único que se salvou do naufrágio na linha da
frente, mostrando faculdades e espreitando a ocasião de lançar o remate
vitorioso. As duas bolas do Benfica foram da sua autoria.
(Campeonato 50/51, Porto, 5 – Benfica, 2)
(Campeonato 50/51, Porto, 5 – Benfica, 2)
Emblema do Lusitano Sports Clube do Lobito
Ao intervalo registava-se um empate a uma bola, tendo Corona marcado para o Benfica e Lourenço pela selecção do Lobito. No interregno, o inglês Ted Smith, técnico do Benfica, perguntava a toda a gente qual era a idade do avançado-centro, um jovem alto e magro que o tinha impressionado favoravelmente em duas ou três intervenções e que lhe parecera bastante jovem.
No início do segundo tempo, eram decorridos 30 segundos de jogo, ainda o «mister» não se tinha sentado, quando uma ofensiva do Benfica foi interceptada por Zé da Barca, um moçambicano radicado no Lobito, que, de imediato, entregou a Amândio Couceiro, o qual faz um passe de «morte» ao jovem Águas - assim se chamava o tal avançado centro - que, com um remate «seco», bate Contreiras, colocando a selecção do Lobito a vencer por 2-1. A multidão não acreditava no que os seus olhos viam, o resultado era desfavorável ao Benfica! A partir daí, o Benfica carregou no acelerador e esperava-se a qualquer o momento o golo do empate; contudo, em mais um ataque rapidíssimo do Benfica, o mesmo Zé da Barca voltou a interceptar a bola, endossando-a a Pavão que, de imediato, a colocou ao alcance de Águas, fazendo este o 3º golo e, assim, «matando» o jogo. Desmoralizado e com um resultado desfavorável de 3-1, o Benfica baixou os braços à espera do apito que colocasse ponto final naquele «calvário».”
Extraído do Jornal dos Leitores - Expresso, de 9-Nov-2000, de
Arlindo Leitão
Quando chegou a
Lisboa, a 18 de Setembro de 1950, poucos seriam capazes de adivinhar que aquele
rapaz bem-parecido, com pinta de actor de cinema, seria, 12 anos mais tarde, o
grande José Águas, um dos mais notáveis avançados de sempre do futebol
português, reconhecido unanimemente como o melhor cabeceador que os nossos
estádios conheceram até hoje.
A sua estreia, na Tapadinha, uma semana depois de ter desembarcado, constituiu enorme desilusão. Desenquadrado da equipa, impiedosamente marcado pelos defesas adversários (Armindo e Baptista), o novo ponta-de-lança desiludiu. Quem havia de dizer que aquilo era apenas o mau início de uma carreira fulgurante?
José Águas rompeu com o conceito em vigor na altura quanto ao que é e como devia ser um avançado-centro. De um dia para o outro o futebol português passou a ter como referência um jogador de elegância máxima, frio, racional nos esforços, com requinte no modo como tratava a bola e possuidor de um jogo de cabeça único.
A sua estreia, na Tapadinha, uma semana depois de ter desembarcado, constituiu enorme desilusão. Desenquadrado da equipa, impiedosamente marcado pelos defesas adversários (Armindo e Baptista), o novo ponta-de-lança desiludiu. Quem havia de dizer que aquilo era apenas o mau início de uma carreira fulgurante?
José Águas rompeu com o conceito em vigor na altura quanto ao que é e como devia ser um avançado-centro. De um dia para o outro o futebol português passou a ter como referência um jogador de elegância máxima, frio, racional nos esforços, com requinte no modo como tratava a bola e possuidor de um jogo de cabeça único.
Já com a braçadeira de capitão e senhor do estatuto de melhor
marcador encarnado de todos os tempos — que só muito mais tarde perdeu para
Eusébio —, Águas entrou na história como o primeiro português a sentir o peso
da Taça dos Campeões Europeus. E sentiu-o por duas vezes.
Ao cabo de uma vida
inteira a marcar golos, a sua imagem erguendo o troféu conquistado ao Real
Madrid, em 1962, ficará para sempre como a mais emblemática. Um momento de
felicidade suprema que resume 12 anos fantásticos ao serviço do Benfica.
Jornal A Bola
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